A dança pode auxiliar na redução da pressão arterial?
Autor: Profa. Dra. Kátia De Angelis (Departamento de Atividade Física da SBH)
A hipertensão é uma doença que afeta milhões de pessoas no mundo. Se a hipertensão não for tratada de forma adequada há um expressivo aumento no risco de infarto do coração, acidente vascular encefálico (popularmente conhecido como o derrame) e doença renal. Atualmente, existe uma gama de tratamentos farmacológicos (remédios) e não farmacológicos (ajustes na dieta, exercícios, terapias para controlar o estresse), que podem ser associados para ajudar no controle dos valores da pressão arterial. O acompanhamento de uma equipe multidisciplinar (médico, enfermeiro, psicólogo, nutricionista, professor de educação física, farmacêutico, entre outros) facilita a obtenção do sucesso no tratamento da hipertensão, cujo principal objetivo é reduzir os valores da pressão arterial e as consequências da pressão alta no organismo.
Com relação aos tratamentos não-farmacológicos, destaca-se a recomendação para a prática regular de atividades físicas, que comprovadamente pode reduzir a pressão arterial e prevenir as complicações dessa doença. Realizar 30 minutos por dia de atividades físicas moderadas, mesmo sem a supervisão de um profissional, já ajuda a diminuir a pressão arterial, desde que a pessoa não sinta nenhum sintoma quando faz essa atividade. Porém, benefícios mais expressivos são conseguidos com um programa de exercícios físicos estruturados. Esses exercícios devem ser prescritos por profissionais qualificados e devem envolver, principalmente, atividades de característica dinâmica aeróbia, como caminhar/trotar/correr, andar de bicicleta, nadar, entre outros; que podem ser associadas a exercícios de força de intensidade moderada, como a musculação. Mais recentemente, pesquisadores estão estudando outras formas não tão convencionais de atividade física, como a dança, e seus efeitos na redução da pressão arterial.
A dança é uma modalidade menos convencional na reabilitação cardiovascular, que tem sido associada à melhora na socialização e na autoestima, podendo auxiliar no combate à depressão, à timidez, à ansiedade e ao estresse. Entre os possíveis benefícios para o corpo que a dança promove estão a melhora na flexibilidade e no condicionamento físico, bem como o aprimoramento da coordenação motora e a perda de peso, dentre tantos outros. Além disso, estudos começam a demonstrar que a dança pode ser uma forma complementar de terapia no combate à hipertensão. É interessante destacar que qualquer pessoa pode dançar, de qualquer idade ou condição física ou social. Além disso, eventuais restrições físicas podem ser superadas com o auxílio de um profissional que realize ajustes nos passos da dança às limitações do praticante. Neste ano de 2016, uma revisão de pesquisas científicas envolvendo os efeitos da prática regular da dança em hipertensos foi publicada por Conceição e colaboradores na revista International Journal of Cardiology. Essa revisão avaliou 4 pesquisas conduzidas em homens e mulheres hipertensos com idade entre 44 e 55 anos, que estavam tomando medicamentos anti-hipertensivos e que realizaram aulas de dança 2 a 3 vezes por semana, com duração de 45 a 60 minutos, durante 4 a 12 semanas. Os autores dessa revisão demonstraram que a dança reduziu a pressão arterial sistólica (máxima) e diastólica (mínima) dos praticantes. Tais resultados reforçam a ideia que a dança possa ser usada como terapia complementar no tratamento da hipertensão.
Assim, se você gosta de dançar e tem hipertensão ou risco de desenvolvê-la em função, por exemplo, de hábitos de vida não saudáveis ou de um histórico familiar de pais hipertensos, converse com seu médico e com um professor de educação física sobre a possibilidade de incluir a dança como parte de seu tratamento para evitar o aumento ou reduzir os valores de sua pressão arterial.
Lembre-se que os pacientes hipertensos que se beneficiaram com a pratica da dança no estudo citado estavam tomando a medicação para a hipertensão. Portanto, se você tem hipertensão não deixe de tomar diariamente seus remédios conforme a recomendação de seu médico, faça os exercícios físicos recomendados por seu professor de educação física, ajuste sua dieta de acordo com o recomendado pelo nutricionista e inclua a dança na sua vida. Quando estiver dançando, procure executar movimentos contínuos e em uma intensidade que lhe traga bem-estar. Procure falar com seu parceiro ou colega de dança, esse fato garante que a intensidade da dança não está acima do que você deveria fazer. Caso tenha dificuldade em falar uma frase completa enquanto estiver dançando, procure reduzir o ritmo da dança. Se você é hipertenso, esteja atento às recomendações do seu professor com relação à necessidade de medir sua pressão arterial e/ou monitorar sua frequência cardíaca quando estiver dançando.
E não esqueça: “Quem dança, os seus males espanta”!