Esclarecimentos da Sociedade Brasileira de Hipertensão para todos os profissionais de saúde sobre as Diretrizes Europeias de Hipertensão 2024
29 de outubro de 2024 às 20:16
No último Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia foi apresentada a Diretriz Europeia de Pressão Arterial Elevada e Hipertensão Arterial, que foi publicada posteriormente no periódico European Heart Journal, trazendo algumas novidades em definições e estratégicas terapêuticas que tem motivado divulgações nos meios de comunicação chamando a atenção para valores de pressão arterial que antes eram considerados normais, agora definidos como pressão elevada. A forma como estas mensagens estão sendo veiculadas vem deixando dúvidas, na população e também entre os profissionais de saúde, de como estas recomendações irão impactar no manejo da hipertensão em nosso pais.
A Sociedade Brasileira de Hipertensão, que congrega especialistas de várias áreas médicas e de outras profissões da área da Saúde que se dedicam aos cuidados da hipertensão arterial vem a publico para esclarecimentos a respeito da Diretriz Europeia.
É importante destacar que não houve mudanças nos valores de pressão arterial que definem o diagnóstico de hipertensão arterial, quais sejam maiores ou iguais a 140/90 mmHg, idêntico aos valores adotados aqui no Brasil, de acordo com as últimas diretrizes publicadas em 2021. A novidade foi atribuir a definição de pressão arterial elevada para valores entre 120/70 mmHg e 140/90 mmHg, e de pressão não elevada para valores inferiores a 1120/70 mmHg. A intenção dos coordenadores da diretriz europeia foi dar a ideia de que a hipertensão é uma condição clínica onde existe uma continuidade no seu desenvolvimento, e que o risco cardiovascular aumenta já a partir de valores mais baixos. É bem reconhecido há mais de 20 anos, baseado em uma revisão de estudos clínicos, que a partir de valores de pressão arterial acima de 115 / 75 mmHg o risco cardiovascular aumenta a cada incremento de 20 mmHg para pressão sistólica e 10 mmHg para a pressão diastólica, exigindo cuidados e acompanhamento, além de adoção de hábitos saudáveis de vida. Na diretriz brasileira de 2020, classificamos os indivíduos com valores de pressão arterial entre 130/85 e 140/90 como pré-hipertensão, enfatizando a adoção de hábitos de vida saudáveis neste grupo, além de orientar medidas fora do consultório e no caso da presença de outros fatores de risco ou doenças associadas indicando a necessidade de uso de medicação.
Para a SBH, há dois pontos críticos a esta nova recomendação: 1) a denominação pressão elevada traz confusão aos pacientes visto que sempre usamos o termo pressão alta para designar hipertensão, e separar as duas situações fica difícil. O termo pré-hipertensão dá a mesma noção de continuidade da doença e reforça a necessidade de controle neste grupo com medidas de mudanças de estilo de vida saudável. 2) o valor de pressão diastólica de 70 mmHg é muito baixo para esta definição e não existe evidência robusta para considerá-lo.
As próximas diretrizes brasileiras de hipertensão estão sendo elaboradas com a programação de publicação em 2025, e até lá manteremos as mesmas recomendações da diretriz publicada em 2021. O momento é oportuno para chamarmos atenção para intensificar ações de melhora no diagnóstico da hipertensão arterial e no controle da pressão arterial entre os hipertensos, que é insatisfatório em nosso país, atingindo apenas 30%. Adoção aos hábitos de vida saudáveis (redução do consumo de sódio na dieta, atividade física regular, controle do peso e do estresse), e estratégias para melhorar a adesão ao tratamento medicamentoso são fundamentais para se atingir este objetivo.
Controlar a pressão arterial salva vidas!