Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial

Editorial Revista da SBH

Décio Mion Júnior, Fernando Nobre

Até a década de 1960 as orientações para condutas eram baseadas no conhecimento individual1. Ainda que médicos com grande experiência clínica fossem capazes de dar orientações, promover tratamentos para doenças com as quais houvera trabalhado por décadas isso não era suficiente,

Duas vertentes nesse tipo de prática foram observadas: nem sempre as características dos pacientes refletiam a gravidade de sua doença e o oposto, quase um corolário dessa primeira: nem sempre as aparências de um inocente quadro clínico refletia a real importância da doença.

Então, importante reviver a observação de James Lind (1716-1794) propondo “O primeiro estudo clínico, baseado no princípio de que a observação de vários pacientes em relação a um fato nos ajudaria a melhorar nossa prática clínica”.

Era dado o primeiro passo para que a medicina em geral, e a cardiologia em particular, passasse a ser, como de fato foi baseada nas melhores evidências de benefícios documentados por meio de estudos clínicos.

Em 1972, foi criado, nos Estados Unidos, The National High Blood Pressure Education Program (NHBPEP) at the National Heart, Lung, and Blood Institute (NHLBI). Então a partir daí, em 1977, foi publicado o Joint National Committee on Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure report (JNC 1)2, depois seguido por atualizações em 19803, 19844, 19885, 19936, 19977 e 20038.  Outras sociedades, como American Heart and American College9, European Society of Cardiology and European Society of Hypertension (essa a mais recente de todas as publicadas)10, Canadian Cardiology Society11 e outras, passaram a publicar suas próprias diretrizes

Similar e paralelamente as Sociedades Brasileiras de Cardiologia, Nefrologia e Hipertensão publicaram Diretrizes Brasileiras sobre Hipertensão Arterial.

O Quadro I exibe as publicações das Diretrizes (inicialmente nominadas Consensos) Brasileiras de Hipertensão Arterial cronologicamente, desde 1990 até 202112-19.

DocumentoAno de PublicaçãoCoordenador(es)Número de ParticipantesNúmero de Páginas
ICBHA1991Wille Oigman Nelson Spritzer56  16
IICBHA1994Fernando Nobre Mozart R. Furtado41  14
IIICBHA1998Osvaldo Kohlmann Jr.8439
IVDBH2002Décio Mion Jr12014
VDBH2006Décio Mion Jr8954
VIDBH2010Fernando Nobre4551
VIIDBH2016Marcos V. B. Malachias6883
VIIIDBH2020Weimar B. Sebba116142
CBHA = Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial, DBH = Diretriz Brasileira de Hipertensão
Quadro I. Cronologia das publicações das diversas Diretrizes  (Consensos) Brasileiras de Hipertensão Arterial*.
(*No momento em que escrevemos esse Editorial está em fase final, para breve publicação, a IX Diretriz Brasileira de Hipertensão, sob a Coordenação de Andrea de Araújo Brandão).

Diretrizes muitas vezes padecem da falta de objetividade e em outras refletem com tanto rigor o conhecimento que não são aplicáveis à prática médica real.

Assim, elas, ao serem elaboradas devem seguir essas premissas e serem feitas com esses cuidados.

Podemos dizer que ao longo desses anos de publicações as Diretrizes (Consensos) Brasileiras foram calcadas nas melhores evidências disponíveis nessa área do conhecimento e, certamente, serviram para orientar a todos que tratam pacientes com Hipertensão Arterial. Similaridades e diferenças foram, diante desses conhecimentos estabelecidas. O Quadro II aponta essas características especiais entre essas diversas publicações. 

DocumentoAnormalidade da Pressão Arterial (mm Hg)Quando iniciar o tratamento medicamentosoMetas de Pressão Arterial (mm Hg)
 CBHA90≥160×90PAD é a referênciaPAD ≥80 e <90
IICBTHA≥160×90PAD é a referência<140 x 90
IIICBH  ≥140×90  PAD e PAS devem ser consideradas<140 x 90 135 x 85 (situações especiais)
 IVDBH  ≥140×90  PAD e PAS devem ser consideradas<140 x 90 135 x 85 (situações especiais)
 VDBHConsultório ≥140 x 90 MAPA 24 horas ≥ 130 x 80 MRPA ≥ 135 x 85  ≥140 x 90  (Para a maioria. Estratificar o Risco Global)      <140 x 90  
VIDBHConsultório ≥140 x 90 MAPA 24 horas ≥ 130 x 80 MRPA ≥ 135 x 85  ≥140 x 90 (Para a maioria. Estratificar o Risco Global)  ≥140 x 90  130 x80 (situações especiais)
VIIDBHConsultório ≥140 x 90 MAPA 24 horas ≥ 130 x 80 MRPA ≥ 135 x 85  ≥140 x 90  (Para a maioria. Estratificar o Risco Global)  ≥140 x 90  130 x80 (situações especiais)
VIIIDBH  Consultório ≥140 x 90   MAPA 24 horas ≥ 130 x 80 MRPA ≥ 135 x 85  ≥140 x 90  (Para a maioria. Estratificar o Risco Global)    ≥140 x 90  130 x80 (situações especiais)
CBHA = Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial; CBH = Consenso Brasileiro de Hipertensão; DBH = Diretriz Brasileira de Hipertensão

Nesse número da Revista da Sociedade Brasileira de Hipertensão no qual é resgatada, com muito mérito, a história das Diretrizes (Consensos) Brasileiras de Hipertensão nos sentimos gratos e honrados pelo convite para a produção desse Editorial, especialmente nós que participamos da elaboração de todas elas.

E, por fim, as palavras do equilíbrio que deve reger a vida em geral e a medicina também.

Por isso oportuno lembrar sábia e pragmática observação de J. Willis Hurst (1920-2011) “Bons médicos são aqueles que sabem usar as Diretrizes. Ótimos médicos são aqueles que sabem quando não as utilizar”.

Bibliografia

  1. Paul K. Whelton. Evolution of blood pressure clinical practice Guidelines: a personal perspective. Can J Cardiol. 2019 May; 35(5): 570–581
  2. Report of the Joint National Committee on Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure. A cooperative study. JAMA. 1977;237(3):255–261.
  3. The 1980 report of the Joint National Committee on Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure. Arch Intern Med. 1980;140(10):1280–1285.
  4. The 1984 Report of the Joint National Committee on Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure. Arch Intern Med. 1984;144(5):1045–1057.
  5. The 1988 report of the Joint National Committee on Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure. Arch Intern Med. 1988;148(5):1023–1038.
  6. The Fifth report of the Joint National Committee on Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure (JNC V). Arch Intern Med. 1993; 153(2): 154–183. [PubMed: 8422206]
  7. The Sixth report of the Joint National Committee on prevention, Detection, Evaluation, and treatment of high blood pressure. Arch Intern Med. 1997;157(21):2413–2446. [PubMed: 9385294]
  8. The Seventh report of the Joint National Committee on prevention, Detection, Evaluation, and treatment of high blood pressure. JNC VII
    The Seventh Report of The Joint National Committee on
    Prevention, Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure. JAMA 2003, May 21,2003;289(19):2560-2572.
  9. Whelton PK, Carey RM, Aronow WS, et al. 2017 ACC/AHA/AAPA/ABC/ACPM/AGS/APhA/ASH/ASPC/NMA/PCNA Guideline for the Prevention, Detection, Evaluation, and Management of High Blood Pressure in Adults: Executive Summary: A Report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Clinical Practice Guidelines. Hypertension. 2018;71(6):1269 ∙ 
  10. Kerry A. McBrien,  Ruth Sapir-Pichhadze,  Vincent Woo, Alan D. Bell, Stella S. Daskalopoulou et all.   Hypertension Canada’s 2020 Comprehensive Guidelines for the Prevention, Diagnosis, Risk Assessment, and Treatment of Hypertension in Adults and Children. Canadian Journal of Cardiology 2020; 36:596-624.
  11. John William McEvoy, Cian P McCarthy, Rosa Maria Bruno, Sofie Brouwers, Michelle D Canavan, Claudio Ceconi et all. 2024 ESC Guidelines for the management of elevated blood pressure and hypertension: Developed by the task force on the management of elevated blood pressure and hypertension of the European Society of Cardiology (ESC) and endorsed by the European Society of Endocrinology (ESE) and the European Stroke Organisation (ESO). European Heart Journal, Volume 45, Issue 38, 7 October 2024:3912–4018.
  12. Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial 1990. Arq. Bras. Cardiol. 1991. Vol. 56 (Sup. A):A1-A16.
  13. II Consenso Brasileiro Para o Tratamento da Hipertensão Arterial. Arq. Bras. Cardiol. 1994 – Volume 63 – Número 4:333-347.
  14. III Consenso Brasileiro Para o Tratamento da Hipertensão Arterial. HiperAtivo 1999, volume 6, número 1:67-106
  15. IV Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial. Arq Bras Cardiol volume 82, (suplemento IV), 2004:1-14.
  16. V Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial. Arq Bras Cardiol 2008. e-24-e79
  17. VI Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial.  Arq Bras Cardiol 2010; 95(1 supl.1): 1-51
  18. VII Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial. Arq Bras Cardiol 2016 Volume 107, Nº 3, Suplemento 3:1-104
  19. VIII Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial. Arq Bras Cardiol. 2021; 116(3):516-658.

Histórico de documentos oficiais com orientações para o diagnóstico, tratamento e controle da hipertensão arterial no Brasil.

Clique no ano para acessar.

2023

2020

2016

2010

2007

2002

1999

1994

1991